IDEAC Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico

Cheiros e sabores da infância

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Durante a Oficina de Memória e Criatividade realizada pelo Ideac e coordenada pela psicóloga Sonia Fuentes, um dos exercícios foi escrever sobre o tema “Cheiros e sabores da infância”. O médico Jader Andrade, um dos participantes, fez um belo texto. Confira:

O cheiro da mãe e outras lembranças

A infância está perdida nas lembranças.
Mas pensar em cheiros e sabores, de imediato me remete à minha mãe. Mãe amorosa que refletia seu amor na comida que preparava,
no cuidado com o sabor do que fazia…

Mas, buscando lá no fundo, também vem o cheiro da loção Aqua Velva que meu pai usava após se barbear…
e o cheiro daquela água da represa artificial, com seu lodo… devo ter percebido mais fortemente naquela vez em que ele caiu no laguinho, lá no Parque Municipal, para canoa em que estávamos não virar…

Lembro também do cheiro da tia Néa,  que de tanto ficar deitada, fechada em seu quarto lá em casa lendo jornais, se misturava com o das letras.

Vem também o cheiro de mar em Copacabana. Sorvete de creme da Kibon e Chicabon. Cheiro de pé de moleque na festa junina no grupo escolar. Cheiro de vela no ar, na Igreja São José. No carro da família do colega de colégio, íamos para o sítio… olha o cheiro do estofamento e o cheiro do caminho!

Na hípica, o cheiro dos cavalos!
Para os Natais, castanhas portuguesas, com certeza. O tilintar da válvula da panela de pressão liberava o odor obrigatório para a noite do dia 24 de dezembro.
Sinalizava que o saboroso pernil, o vinho com água e açúcar e a canela das rabanadas, maciamente deliciosas, estavam chegando. A Pastelândia, lá no centro da capital mineira, animando a volta das compras no Mercado Municipal nas manhãs de sábado. O cheiro da fritura ainda vem: “de queijo, por favor”. Não era regalo pra todas as vezes, mas a esperança esteve ali.

Minha mãe mesmo, não gostava de tudo, mas tínhamos, eu e meu irmão que comer.
”Até 18 anos você come o que eu mandar. Depois você pode escolher”, ela dizia, imperativa. Eu não gostava de milho, o cheiro dele cozido me nauseava (e talvez ainda hoje o faça, até evito). De coco continuo sem gostar.
Verduras não eram meu ideal de paladar, só obrigado!
Mas os cheiros de outros quitutes ainda podem vir facilmente se deles lembrar. Brevidades, com polvilho Royal, por ser melhor.
Pães de batata.
E a raspa da massa de bolo feito aos sábados e disputada com meu irmão. Foi preciso determinar: em cada sábado um come.

O restinho das latas de leite condensado, esperava também por um dos dois filhos de D. Iaiá, como ela mesmo se intitulava, vai saber por que. Sorvete de chocolate, meio talhadinho, mas que era tão bom!
Feijoada… Ah a feijoada. Precisou tentar substituir o feijão carioquinha ou jalo pelo feijão preto diariamente para ver se eu comeria menos.
Não adiantou, só o passar dos anos diminuiu este desejo.
Ficou um cheiro.
O cheiro de mãe. Pó de arroz e perfume nos dias que saía. 
Lembranças.

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